Influências - Fernando Pessoa e Romantismo
(um aviso: devem ter reparado na nova página intitulada de "As Time Flows By". Isto é a minha história que escrevia no Wattpad mas que também vai estar aqui. Ela está totalmente escrita em inglês mas aconselho todos vocês a lerem, é (de acordo com as críticas que tive) uma boa história)
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Sinto que ficou tanta coisa por dizer na Apresentação. Não falei de como comecei a escrever, quem é que tive como influências, os temas que escrevo sobretudo... Mas espero que os próximos posts preencham essa lacunas.
Vou tentar falar das minhas muitas influências (de outros autores, é claro) em posts separados de modo a reduzir o volume dos textos. Vou agrupá-los a pares, porque é o que me parece mais leve mas mantendo o conteúdo interessante (ou outra razão qualquer).
Começamos pela influência mais óbvia, que é Fernando Pessoa (e heterónimos, obviamente). Sendo português, seria quase um crime escrever poesia sem ser influenciado por alguém que, há quase 90 anos atrás, deixou marcas profundas e irreversíveis na língua e cultura literária portuguesa.
Todos tem diferentes opiniões de mim quando me comparam ao poeta genial de Portugal: há quem me ache semelhante a Alberto Caeiro, pela invocação e descrição da natureza que faço em alguns poemas; há quem reveja um pouco de Álvaro de Campos em mim, pelas emoções à flor da pele e quem me compare ao ortónimo, pelas dicotomias do sentir/pensar, e mais recentemente o sonho/realidade. Pessoalmente eu vejo-me como um Ricardo Reis, por duas razões: o ritmo calmo dos meus poemas (na generalidade) e o gosto pela mitologia (grega e nórdica), que me fascina imenso.
O fascínio pela obra literária de Pessoa não me acaba aqui, numa simples semelhança nos estilos: como ávido leitor do seu legado, tento igualar-me, e espero um dia chegar ao patamar único que ele chegou. Claro está que isso é uma impossibilidade, mas termos ambições definidas ajuda-nos sempre a melhorar a nossa qualidade, sem darmos por isso.
Um dos meus poemas que escrevi sob a influência pessoana foi na verdade uma Ode a ele. Creio ser a minha forma de demonstrar o meu tributo a Fernando Pessoa.
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Sinto que ficou tanta coisa por dizer na Apresentação. Não falei de como comecei a escrever, quem é que tive como influências, os temas que escrevo sobretudo... Mas espero que os próximos posts preencham essa lacunas.
Vou tentar falar das minhas muitas influências (de outros autores, é claro) em posts separados de modo a reduzir o volume dos textos. Vou agrupá-los a pares, porque é o que me parece mais leve mas mantendo o conteúdo interessante (ou outra razão qualquer).
Começamos pela influência mais óbvia, que é Fernando Pessoa (e heterónimos, obviamente). Sendo português, seria quase um crime escrever poesia sem ser influenciado por alguém que, há quase 90 anos atrás, deixou marcas profundas e irreversíveis na língua e cultura literária portuguesa.
Todos tem diferentes opiniões de mim quando me comparam ao poeta genial de Portugal: há quem me ache semelhante a Alberto Caeiro, pela invocação e descrição da natureza que faço em alguns poemas; há quem reveja um pouco de Álvaro de Campos em mim, pelas emoções à flor da pele e quem me compare ao ortónimo, pelas dicotomias do sentir/pensar, e mais recentemente o sonho/realidade. Pessoalmente eu vejo-me como um Ricardo Reis, por duas razões: o ritmo calmo dos meus poemas (na generalidade) e o gosto pela mitologia (grega e nórdica), que me fascina imenso.
O fascínio pela obra literária de Pessoa não me acaba aqui, numa simples semelhança nos estilos: como ávido leitor do seu legado, tento igualar-me, e espero um dia chegar ao patamar único que ele chegou. Claro está que isso é uma impossibilidade, mas termos ambições definidas ajuda-nos sempre a melhorar a nossa qualidade, sem darmos por isso.
Um dos meus poemas que escrevi sob a influência pessoana foi na verdade uma Ode a ele. Creio ser a minha forma de demonstrar o meu tributo a Fernando Pessoa.
"Ode a Fernando Pessoa"
Aos olhos do povo desconhecido,
só depois de morto reconhecido.
Quem se lembrou de ti? Pouco
é o homem que recorda um louco
que se dividiu em quatro diferentes.
"Mensagem" a nós vós trouxestes.
Um monóculo, decadente, desfaz-se em pó:
Álvaro de Campo achava-se só.
E houve ainda aquele, a rosa do teu canteiro
O teu mestre, Alberto Caeiro,
guardador de rebanhos, só na imaginação.
E o teu Ricardo, influenciado por Platão
seguiu Horácio por essas odes escritas.
Foi mais um no núcleo dos epicuristas.
Na Orpheu, revista por onde andaste
foste tu que a nós nos ensinaste
que "tudo vale a pena
se a alma não é pequena"
[Outubro 2017]
só depois de morto reconhecido.
Quem se lembrou de ti? Pouco
é o homem que recorda um louco
que se dividiu em quatro diferentes.
"Mensagem" a nós vós trouxestes.
Um monóculo, decadente, desfaz-se em pó:
Álvaro de Campo achava-se só.
E houve ainda aquele, a rosa do teu canteiro
O teu mestre, Alberto Caeiro,
guardador de rebanhos, só na imaginação.
E o teu Ricardo, influenciado por Platão
seguiu Horácio por essas odes escritas.
Foi mais um no núcleo dos epicuristas.
Na Orpheu, revista por onde andaste
foste tu que a nós nos ensinaste
que "tudo vale a pena
se a alma não é pequena"
[Outubro 2017]
Acho que esse poema não precisa de ser explicado, aparte da óbvia intertextualidade no final com o ortónimo e o poema "Autopsicografia". Outra nota que posso dar é a da "rosa do teu canteiro", que metaforicamente alude a um canteiro que não passa da fertilidade da mente de Pessoa. Claro que podia por intertextualidade com o primeiro poema d'O Guardador de Rebanhos, com um verso do género "recortado no topo do outeiro" em vez de "a rosa do teu canteiro".
O Romantismo é outra das minhas influências, mas sob a forma de Os Maias, de Eça de Queirós. Sendo este o meu livro português favorito, não posso deixar de ser influenciado. O Romantismo na minha poesia não passa do desejo de amor, do fogo brando da paixão, que está quase omnipresente nos meus poemas mais recentes. Sinto-me às vezes, consequência disto, como um desses "românticos incuráveis", mas não sei se o sou verdadeiramente. Se calhar sou um e não me apercebo disso, se calhar sinto uma melancolia por uma era onde o Romantismo era uma vanguarda literária e não uma mancha no passeio temporal da literatura poética, que se vê despojada do "manto diáfano da fantasia". E que manto é esse? Pois eu acho que o manto não é nada mais que uma época onde a poesia (e a literatura) eram apreciadas fortemente. Não estou a dizer que agora não o sejam, mas na parafernália de tecnologias quem é que ainda lê livros de papel em vez de estar agarrado a um ecrã? Isto é muito mais válido nas novas gerações, nas que vieram depois de mim.
Enfim, como um desses "românticos" perdidos na ruína da glória passada da vanguarda apaixonada, deixo-vos um poema que foi escrito hoje mesmo, e que reflete melhor a influência da dicotomia sonho/realidade de Fernando Pessoa enquanto equilibrando os valores do Romantismo:
O Romantismo é outra das minhas influências, mas sob a forma de Os Maias, de Eça de Queirós. Sendo este o meu livro português favorito, não posso deixar de ser influenciado. O Romantismo na minha poesia não passa do desejo de amor, do fogo brando da paixão, que está quase omnipresente nos meus poemas mais recentes. Sinto-me às vezes, consequência disto, como um desses "românticos incuráveis", mas não sei se o sou verdadeiramente. Se calhar sou um e não me apercebo disso, se calhar sinto uma melancolia por uma era onde o Romantismo era uma vanguarda literária e não uma mancha no passeio temporal da literatura poética, que se vê despojada do "manto diáfano da fantasia". E que manto é esse? Pois eu acho que o manto não é nada mais que uma época onde a poesia (e a literatura) eram apreciadas fortemente. Não estou a dizer que agora não o sejam, mas na parafernália de tecnologias quem é que ainda lê livros de papel em vez de estar agarrado a um ecrã? Isto é muito mais válido nas novas gerações, nas que vieram depois de mim.
Enfim, como um desses "românticos" perdidos na ruína da glória passada da vanguarda apaixonada, deixo-vos um poema que foi escrito hoje mesmo, e que reflete melhor a influência da dicotomia sonho/realidade de Fernando Pessoa enquanto equilibrando os valores do Romantismo:
"Sonhos"
Como seria belo,
ter a vida como a pinto,
banhar a realidade escura na luz do sonho,
dissipar na alma o consciente atormentado!
Como seria belo,
ter a vida como a pinto,
banhar a realidade escura na luz do sonho,
dissipar na alma o consciente atormentado!
Como seria belo,
ter-te como imagino:
Só dois, eterno enlace do coração
que se enche de carícias à alma!
ter-te como imagino:
Só dois, eterno enlace do coração
que se enche de carícias à alma!
Mas não consigo sonhar a realidade como a quero.
Nada disto passa dum desejo efémero,
adormecido na inconsciência da noite.
Nada disto passa dum desejo efémero,
adormecido na inconsciência da noite.
És apenas uma memória irreal que guardo
nos confins do sonho, onde nada é errado.
Onde és o amor que lá existe.
[19 de Julho de 2018]
nos confins do sonho, onde nada é errado.
Onde és o amor que lá existe.
[19 de Julho de 2018]
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